Gestifute continua a antecipar conteúdo do livro de Cristiano Ronaldo
Hoje revelamos excertos do terceiro e do quarto capítulo de “Momentos”.
“Brincar com a bola para aliviar a pressão
[…] Os mimos que dou à bola e o gosto por me entreter a fazer malabarismos são mais fortes do que eu. Fazia-o quando jogava na rua, continuei a fazê-lo ao longo de todo a minha formação e ainda o faço. E assim há-de continuar a ser. Porque esse é que é o verdadeiro Cristiano Ronaldo. Acredito que quando as pessoas me vêem no relvado a brincar com a bola, antes do início do período de aquecimento, possam ser tentadas a pensar que se trata de uma operação de charme ou de um acto exibicionista. Está enganado quem pensa assim […]
[…] Antes dos jogos – seja do clube seja da selecção – tenho sempre o mesmo cerimonial. Assim que o treinador divulga a constituição da equipa, vou imediatamente para o balneário e começo a dar toques na bola. Saímos para o aquecimento e enquanto não começam os exercícios físicos dou continuidade às minhas habilidades. Pego na bola, passo-a debaixo de um pé, depois do outro, elevo-a, acaricio-a, enfim, divirto-me com ela. Faço-o por puro prazer, mas há ainda outra razão: quebrar qualquer stress que me possa atacar antes de começar qualquer encontro. Os meus companheiros, quer sejam do clube quer sejam da selecção nacional portuguesa, podem atestá-lo, porque já me conhecem bem. É a minha forma de desanuviar, de afastar a pressão do jogo, de me tranquilizar, de serenar, de descomprimir.” […]
“Banda Aceh, Martunis
[…] O que encontrei foram pessoas de grande coragem e com grande vontade de viver, empenhadas em construir o futuro e em enterrar o passado, em reconstruir os seus locais de habitação, porque em termos emocionais é impossível a quem os viveu esquecer todos os momentos do tsunami e tudo o que a ele se seguiu. Um drama terrível.
[…] Mesmo ainda a acordar da dor, a população recebeu-me com um sorriso e revelando um extraordinário carinho. Agradeci a Deus por, de alguma forma, ter contribuído para que, momentaneamente, se esquecessem da tragédia. Ri com as pessoas, incentivei-as, acarinhei-as. E elas retribuíram com os olhos brilhantes de esperança no futuro e a quererem acompanhar-me para todos os locais que ia visitar, fosse a pé, de autocarro ou de moto. […]
[…] Foi aqui, também, que se deu o meu reencontro com Martunis, um menino indonésio de sete anos e de grande coragem, que sobreviveu sozinho ao Tsunami durante 19 dias. […]
[…] Passamos o dia juntos em Banda Aceh e, mais uma vez, senti-me atingido pelo seu olhar inocente, pela sua curiosidade, pela surpresa, pela admiração, sentimentos que não conseguiu esconder. Não posso imaginar, sequer, o sofrimento por que passou nos 19 dias em que vagueou, sozinho, sem saber notícias da família. […]
[…] Conversávamos por gestos e com a ajuda de uma tradutora. Mas ele é tão tímido que as palavras saíam-lhe a conta-gotas. Ele estava incrédulo a observar toda aquela agitação. Ofereci-lhe uma camisola. Também recebeu de presente um telemóvel. Pediu, imediatamente, o meu número e brincámos ali mesmo. Lado a lado, ligámos um para o outro e conversamos. Quer dizer, tentámos. Para ele tudo era novidade. Abri o meu computador e os olhos dele arregalaram-se muito, porque era a primeira vez que estava perante algo do género. Entusiasmou-se quando lhe mostrei algumas fotografias minhas e vídeos de jogos. O seu olhar brilhava com tanta novidade em tão pouco tempo. Quando a população local percebeu que estávamos juntos, então foi o delírio. Por causa dele. Ele é que era o herói e continua a sê-lo. Ele é que é um exemplo de coragem. Martunis é um menino que merece tudo de bom para a sua vida. E tenho a certeza de que vai ser uma criança feliz." […]