Entrevista completa de Ronaldo: «Ficar no Manchester não será um sacrifício mas uma honra enorme»
Cristiano Ronaldo vai continuar em Manchester na próxima época. É o próprio que o diz numa entrevista ao PÚBLICO, em que assume com frontalidade a sua responsabilidade no "romance" que fez gastar toneladas de papel com a possibilidade de se mudar para o Real Madrid. Refere mesmo ter sido ele o culpado das clivagens que entretanto se criaram entre o clube inglês e o espanhol. Mas não pede desculpa, porque o seu único erro foi ter sido sincero.
O avançado português explica ainda os motivos por que vai manter-se em Old Trafford, faz o elogio do Manchester e principalmente de Ferguson, mas não esconde que o sonho de jogar em Madrid é bem real e antigo. E que é um sonho que se mantém. Mas pede que não se especule a propósito disso, até porque, insiste, a sua cabeça estará agora apenas em Manchester, que quer ajudar a defender os títulos conquistados e a sagrar-se campeão do mundo de clubes.
Alex Ferguson afirmou anteontem que "o assunto está encerrado" e que, definitivamente, o Cristiano Ronaldo jogará em Manchester na próxima época. É verdade?
É verdade. O meu treinador teve a amabilidade de se vir encontrar comigo há dias, em Lisboa, como já penso ser público. Foi uma conversa franca, entre duas pessoas que se respeitam muito e que, tenho a certeza, têm um carinho e uma amizade mútua. O que dissemos um ao outro fica apenas entre nós.
Ferguson ouviu os meus argumentos, eu ouvi os dele e, de facto, ficou entre nós estabelecido que o melhor para ambas as partes seria eu continuar. Por isso, posso confirmar que, na próxima época, irei jogar no Manchester. E, antes que surjam rumores e especulações no sentido de que vou ficar contrariado, quero já esclarecer uma coisa: quem disser ou escrever isso estará a mentir. Vou jogar no Manchester de corpo e alma. Vou lutar e honrar aquela camisola com o empenho e a dedicação de sempre.
E como é que acha que se vão sentir os dirigentes do Real Madrid ao vê-lo agora assumir que fica em Manchester?
Quero assumir que fui eu o grande responsável por toda esta polémica. Eles não tiveram culpa, porque fui eu que manifestei publicamente a vontade de ir para o Real Madrid. Acabei também por ser, mesmo que involuntariamente, o responsável pelos atritos que se verificaram entre os dois clubes.
As suas declarações, logo após a final da Liga do Campeões, mas também no decorrer e após o Europeu, indiciaram uma vontade enorme de sair do Manchester United e de se mudar para o Real Madrid. Afinal, qual era mesmo a sua vontade?
Sabia que o Real Madrid estava interessado em contratar-me e que, alegadamente, teria apresentado uma proposta muito elevada ao Manchester para o conseguir. A minha vontade foi, durante algum tempo, que o Manchester tivesse aceitado transferir-me para Madrid. Dizer o contrário seria estar a enganar as pessoas e a minha própria consciência.
Quem me conhece bem sabe que só algo de muito forte me poderia levar a assumir isto. Se há coisa que nunca fui - nem quero vir a ser - foi ingrato. O Manchester (desde os irmãos Glaser, seus dirigentes, designadamente David Gill, aos treinadores, colegas de equipa e simples funcionários) é um clube que estará para sempre no meu coração.
E isso será sempre verdade, aconteça o que acontecer no futuro. Sei bem o que este clube fez por mim e estar-lhe-ei eternamente grato em quaisquer circunstâncias. Mas, até por isso, até por eu saber que este é um clube diferente, com uma dimensão humana extraordinária, em determinado momento tive alguma esperança de que a minha vontade e as minhas razões fossem entendidas.
E quais foram essas razões que chegaram a fazê-lo querer sair?
Depois de termos ganho a Liga dos Campeões, senti que em cinco anos tinha ajudado a conquistar tudo o que havia para conquistar. Já tínhamos sido bicampeões ingleses e eu já tinha ganho a generalidade dos troféus individuais, incluindo o de melhor marcador da Premier League, da Liga dos Campeões e da Europa.
Senti, por isso, que talvez precisasse de um novo desafio. Por outro lado, nunca escondi que tinha o desejo de jogar em Espanha, mais concretamente no Real Madrid, e achei que este podia ser o momento para o fazer. O Manchester e o Real são provavelmente os dois maiores clubes do mundo e nunca seria uma decisão fácil. Além do novo desafio que ponderei, toda a gente entenderá que o estilo de vida e a cultura espanhola estão mais próximos da portuguesa. Estas foram, de facto, as razões que me fizeram ponderar.
Mas não houve mais nada? A atracção do ordenado ainda mais milionário que o Real Madrid se diz estar disposto a pagar-lhe, por exemplo?
Tenho a consciência de que, em qualquer circunstância, serei sempre vítima de especulações. Sabia, designadamente, que não iria faltar quem dissesse que a minha preocupação era apenas ganhar ainda mais dinheiro.
Outros iriam insistir na tese de que a minha vaidade não resiste à possibilidade de ficar ligado à maior transferência de sempre com apenas 23 anos. Claro que tenho orgulho por o meu trabalho ser reconhecido, mas nada disto pesou de forma decisiva na minha vontade.
Mais: se fosse apenas a questão monetária, nunca sairia do Manchester. Para além dos motivos que já referi, tenho também de reconhecer que a minha família via com bons olhos esta mudança. A possibilidade de estar a uma hora de avião da minha mãe e da minha restante família era uma atracção muito forte, mais a mais passando a servir um clube com a dimensão do Real Madrid. Eu sei que tenho de lidar com essas circunstâncias, mesmo que por vezes também me custe, mas é um pouco doloroso exigi-lo àqueles de quem mais gosto.
A maior prova do que acabei de dizer é o facto de eu ter efectuado um elevado investimento na compra de uma casa em Manchester, quando até nem tinha necessidade de o fazer. Fi-lo precisamente para tentar dar o máximo de conforto não só a mim, mas também aos que me são mais próximos. As pessoas do Manchester, designadamente o seu treinador, compreenderam os meus motivos.
Mas acabámos todos por concluir que eu devo continuar a envergar aquela camisola número sete do Manchester. Não será um sacrifício para mim, antes uma honra enorme. Tenho coisas importantes para continuar a conquistar em Inglaterra. E vou dar tudo de mim em Manchester. Quero defender o título europeu e ajudar o Manchester a sagrar-se campeão mundial. Isto, claro, sem deixarmos de olhar para a conquista da Premier League e para as restantes provas.
Não teme ser mal recebido pelos adeptos do Manchester?
Sinceramente, não. Essa possibilidade existe, mas espero que não se verifique.
Sei que sou um bom profissional, sei que ninguém é mais exigente consigo próprio do que eu e vou continuar a sê-lo em quaisquer circunstâncias. A maior alegria profissional na minha carreira foi a conquista da Liga dos Campeões. Nunca ninguém o apagará da minha memória, como ninguém conseguirá apagar o facto de ter sido conseguida com a camisola do Manchester United.
Aquilo que eu disse publicamente, se calhar com alguma ingenuidade, assumo-o totalmente. As pessoas têm de perceber uma coisa: aos 18 anos cheguei a um clube de sonho como é o Manchester. Foi o cumprir de um sonho. Mas, mesmo nesse momento, já tinha na cabeça o desejo de jogar uns anos valentes em Inglaterra e, depois, ir jogar em Espanha.
Já na altura pensava assim, e nem por isso deixei alguma vez de me aplicar ao máximo. Para quê mentir? Não vou ser um hipócrita e dizer o contrário do que penso, como outros fazem. Eu disse exactamente o que penso: tenho este sonho de jogar em Madrid e achei que era a hora de partir. As pessoas não podem levar a mal que eu queira cumprir um sonho de infância.
Mas seria justo para o Manchester ver-se obrigado a prescindir dos seus serviços, quando você ainda tem um contrato em vigor?
Eu sei bem o quanto este clube fez por mim. Estar-lhe-ei grato para sempre. O Manchester e os seus adeptos podem ter a certeza que nunca os esquecerei, aconteça o que acontecer. São especiais e têm um cantinho aqui guardado [bate com a mão no coração].
Aliás, confesso que uma das razões por que ganhei coragem para assumir o meu desejo foi o de estar garantido que o Manchester iria ser justamente recompensado. Os valores de que se falaram, que seriam recorde a nível mundial, serviriam, pelo menos materialmente, para compensar a dívida de gratidão que tenho para com o clube.
Vou aqui assumir algo que nunca disse a ninguém: se não tivéssemos sido campeões europeus, provavelmente eu não teria sequer chegado a dar sinais de que queria ir para Madrid.
E há uma coisa importante que deve ser referida: nunca foi minha vontade forçar a saída sem o consentimento do Manchester. Ao recusarem a oferta, os responsáveis do Manchester acabaram também por deixar bem vincado o quanto gostam de mim. Na altura, não o compreendi totalmente, mas agora sei dar-lhe o justo valor.
Alex Ferguson afirmou anteontem que "o assunto está encerrado" e que, definitivamente, o Cristiano Ronaldo jogará em Manchester na próxima época. É verdade?
É verdade. O meu treinador teve a amabilidade de se vir encontrar comigo há dias, em Lisboa, como já penso ser público. Foi uma conversa franca, entre duas pessoas que se respeitam muito e que, tenho a certeza, têm um carinho e uma amizade mútua. O que dissemos um ao outro fica apenas entre nós.
Ferguson ouviu os meus argumentos, eu ouvi os dele e, de facto, ficou entre nós estabelecido que o melhor para ambas as partes seria eu continuar. Por isso, posso confirmar que, na próxima época, irei jogar no Manchester. E, antes que surjam rumores e especulações no sentido de que vou ficar contrariado, quero já esclarecer uma coisa: quem disser ou escrever isso estará a mentir. Vou jogar no Manchester de corpo e alma. Vou lutar e honrar aquela camisola com o empenho e a dedicação de sempre.
E como é que acha que se vão sentir os dirigentes do Real Madrid ao vê-lo agora assumir que fica em Manchester?
Quero assumir que fui eu o grande responsável por toda esta polémica. Eles não tiveram culpa, porque fui eu que manifestei publicamente a vontade de ir para o Real Madrid. Acabei também por ser, mesmo que involuntariamente, o responsável pelos atritos que se verificaram entre os dois clubes.
As suas declarações, logo após a final da Liga do Campeões, mas também no decorrer e após o Europeu, indiciaram uma vontade enorme de sair do Manchester United e de se mudar para o Real Madrid. Afinal, qual era mesmo a sua vontade?
Sabia que o Real Madrid estava interessado em contratar-me e que, alegadamente, teria apresentado uma proposta muito elevada ao Manchester para o conseguir. A minha vontade foi, durante algum tempo, que o Manchester tivesse aceitado transferir-me para Madrid. Dizer o contrário seria estar a enganar as pessoas e a minha própria consciência.
Quem me conhece bem sabe que só algo de muito forte me poderia levar a assumir isto. Se há coisa que nunca fui - nem quero vir a ser - foi ingrato. O Manchester (desde os irmãos Glaser, seus dirigentes, designadamente David Gill, aos treinadores, colegas de equipa e simples funcionários) é um clube que estará para sempre no meu coração.
E isso será sempre verdade, aconteça o que acontecer no futuro. Sei bem o que este clube fez por mim e estar-lhe-ei eternamente grato em quaisquer circunstâncias. Mas, até por isso, até por eu saber que este é um clube diferente, com uma dimensão humana extraordinária, em determinado momento tive alguma esperança de que a minha vontade e as minhas razões fossem entendidas.
E quais foram essas razões que chegaram a fazê-lo querer sair?
Depois de termos ganho a Liga dos Campeões, senti que em cinco anos tinha ajudado a conquistar tudo o que havia para conquistar. Já tínhamos sido bicampeões ingleses e eu já tinha ganho a generalidade dos troféus individuais, incluindo o de melhor marcador da Premier League, da Liga dos Campeões e da Europa.
Senti, por isso, que talvez precisasse de um novo desafio. Por outro lado, nunca escondi que tinha o desejo de jogar em Espanha, mais concretamente no Real Madrid, e achei que este podia ser o momento para o fazer. O Manchester e o Real são provavelmente os dois maiores clubes do mundo e nunca seria uma decisão fácil. Além do novo desafio que ponderei, toda a gente entenderá que o estilo de vida e a cultura espanhola estão mais próximos da portuguesa. Estas foram, de facto, as razões que me fizeram ponderar.
Mas não houve mais nada? A atracção do ordenado ainda mais milionário que o Real Madrid se diz estar disposto a pagar-lhe, por exemplo?
Tenho a consciência de que, em qualquer circunstância, serei sempre vítima de especulações. Sabia, designadamente, que não iria faltar quem dissesse que a minha preocupação era apenas ganhar ainda mais dinheiro.
Outros iriam insistir na tese de que a minha vaidade não resiste à possibilidade de ficar ligado à maior transferência de sempre com apenas 23 anos. Claro que tenho orgulho por o meu trabalho ser reconhecido, mas nada disto pesou de forma decisiva na minha vontade.
Mais: se fosse apenas a questão monetária, nunca sairia do Manchester. Para além dos motivos que já referi, tenho também de reconhecer que a minha família via com bons olhos esta mudança. A possibilidade de estar a uma hora de avião da minha mãe e da minha restante família era uma atracção muito forte, mais a mais passando a servir um clube com a dimensão do Real Madrid. Eu sei que tenho de lidar com essas circunstâncias, mesmo que por vezes também me custe, mas é um pouco doloroso exigi-lo àqueles de quem mais gosto.
A maior prova do que acabei de dizer é o facto de eu ter efectuado um elevado investimento na compra de uma casa em Manchester, quando até nem tinha necessidade de o fazer. Fi-lo precisamente para tentar dar o máximo de conforto não só a mim, mas também aos que me são mais próximos. As pessoas do Manchester, designadamente o seu treinador, compreenderam os meus motivos.
Mas acabámos todos por concluir que eu devo continuar a envergar aquela camisola número sete do Manchester. Não será um sacrifício para mim, antes uma honra enorme. Tenho coisas importantes para continuar a conquistar em Inglaterra. E vou dar tudo de mim em Manchester. Quero defender o título europeu e ajudar o Manchester a sagrar-se campeão mundial. Isto, claro, sem deixarmos de olhar para a conquista da Premier League e para as restantes provas.
Não teme ser mal recebido pelos adeptos do Manchester?
Sinceramente, não. Essa possibilidade existe, mas espero que não se verifique.
Sei que sou um bom profissional, sei que ninguém é mais exigente consigo próprio do que eu e vou continuar a sê-lo em quaisquer circunstâncias. A maior alegria profissional na minha carreira foi a conquista da Liga dos Campeões. Nunca ninguém o apagará da minha memória, como ninguém conseguirá apagar o facto de ter sido conseguida com a camisola do Manchester United.
Aquilo que eu disse publicamente, se calhar com alguma ingenuidade, assumo-o totalmente. As pessoas têm de perceber uma coisa: aos 18 anos cheguei a um clube de sonho como é o Manchester. Foi o cumprir de um sonho. Mas, mesmo nesse momento, já tinha na cabeça o desejo de jogar uns anos valentes em Inglaterra e, depois, ir jogar em Espanha.
Já na altura pensava assim, e nem por isso deixei alguma vez de me aplicar ao máximo. Para quê mentir? Não vou ser um hipócrita e dizer o contrário do que penso, como outros fazem. Eu disse exactamente o que penso: tenho este sonho de jogar em Madrid e achei que era a hora de partir. As pessoas não podem levar a mal que eu queira cumprir um sonho de infância.
Mas seria justo para o Manchester ver-se obrigado a prescindir dos seus serviços, quando você ainda tem um contrato em vigor?
Eu sei bem o quanto este clube fez por mim. Estar-lhe-ei grato para sempre. O Manchester e os seus adeptos podem ter a certeza que nunca os esquecerei, aconteça o que acontecer. São especiais e têm um cantinho aqui guardado [bate com a mão no coração].
Aliás, confesso que uma das razões por que ganhei coragem para assumir o meu desejo foi o de estar garantido que o Manchester iria ser justamente recompensado. Os valores de que se falaram, que seriam recorde a nível mundial, serviriam, pelo menos materialmente, para compensar a dívida de gratidão que tenho para com o clube.
Vou aqui assumir algo que nunca disse a ninguém: se não tivéssemos sido campeões europeus, provavelmente eu não teria sequer chegado a dar sinais de que queria ir para Madrid.
E há uma coisa importante que deve ser referida: nunca foi minha vontade forçar a saída sem o consentimento do Manchester. Ao recusarem a oferta, os responsáveis do Manchester acabaram também por deixar bem vincado o quanto gostam de mim. Na altura, não o compreendi totalmente, mas agora sei dar-lhe o justo valor.
em: publico.pt
1 Comments:
Great Interview.
Thanks.
By Unknown, at 11:43 da tarde
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