«O Manchester é o clube ideal para mim»

Tem jogado e encantado. Indiferente ao que o rodeia, revelando uma maturidade e uma confiança invulgares, que só surpreendem quem realmente não o conhece. Esta é a primeira entrevista de Cristiano Ronaldo depois do Mundial da Alemanha.

Cristiano Ronaldo cresceu. Percebe-se a cada gesto, a cada expressão, a cada palavra proferida. Percebe-se na atitude que tem em campo. Concentrada, madura, personalizada, autoritária. Confiante. Por muito que seja o ruído adverso que se faça ouvir desde as bancadas dos estádios ingleses. Impassível, só tem olhos para a bola, que continua, cada vez mais, a ser a sua melhor aliada. Cristiano Ronaldo não é um jogador qualquer. É “o” jogador. Por isso é especial. Por isso o Mundo quase pára quando encontra algum assunto que lhe diga respeito. Foi assim depois do famoso Inglaterra-Portugal. É assim a cada movimento seu. Ele, “o tal”, encolhe os ombros, encarando este enorme fenómeno de popularidade com um surpreendente à-vontade. Os estilhaços do Mundial da Alemanha não passaram disso mesmo. A sua classe ficou bem demonstrada nos dois primeiros jogos que realizou fora de Old Trafford. A Gestifute Media esteve presente num deles (o primeiro, em Charlton) e confirmou-o: Cristiano Ronaldo superou-se. Está diferente. O miúdo, que é um grande jogador, como diz Ferguson, cresceu. E está ainda um jogador mais imprevisível, mais espectacular, mais determinante para a sua equipa. Que é a do Manchester, “o clube ideal” para si. Em entrevista exclusiva à Gestifute Media, Cristiano Ronaldo aborda todos os temas com grande tranquilidade e com muitos sorrisos pelo meio, todos de uma extrema pureza, porque continua a ter direito a ser um menino grande. Garante que a decisão de ficar em Manchester “foi a mais correcta”, recusa liminarmente a ideia de sair pela porta pequena, assegura que tem a cabeça no lugar e quem nem os assobios do maior estádio do mundo o desestabilizarão e o farão reagir, aborda o tema Rooney, confirmando que continuam a ser grandes amigos, expressa a sua confiança no título inglês para esta época, revela a nova aposta que fez com Ferguson, fala da selecção nacional e do campeonato português e promete surpreender o Mundo com uma nova finta. Isto e muito mais. É Cristiano Ronaldo, o tal, em discurso directo.
GESTIFUTE MEDIA – O que é que o fez ficar no Manchester?
CRISTIANO RONALDO – O treinador e o presidente do Manchester conversaram comigo. Eles disseram-me algumas coisas, eu também lhes disse algumas coisas e pronto, não se passou mais nada. É verdade que, antes de regressar a Manchester, disse numa entrevista que tudo poderia acontecer. Mas este foi um clube que me apoiou bastante e onde já ganhei muitas coisas, pelo que há situações que precisam de ser analisadas com calma. Com o apoio do presidente, do Jorge [Mendes] e de Alex Ferguson, tomei a decisão de ficar com mais tranquilidade e penso que foi, mesmo, a decisão mais correcta.
P – Considera que se precipitou quando disse que já não tinha condições para continuar no Manchester?
R – Quando estamos com a cabeça quente por vezes dizemos coisas que não queremos ou, pelo menos, que não são oportunas. Se calhar, não queremos aceitar que estávamos errados, ou que algumas pessoas estavam erradas, mas isso é uma história que não vale a pena aprofundar. O que importa é que as coisas terminaram bem. Falei com as pessoas com quem tinha de falar, elas falaram comigo, deram-me todo o seu apoio e quando assim é voltamos à normalidade e a normalidade é continuar no Manchester e fazer uma boa temporada.
P – Por ter chegado à conclusão de que o Manchester é o clube perfeito para si?
R – Penso que sim. Desde os meus 18 anos que estou cá, o clube tem-me apoiado desde o primeiro ao último minuto da minha carreira, as coisas têm corrido bem, tenho evoluído muito em todos os aspectos, seja física seja mentalmente, pelo que tem sido bastante gratificante para mim.

“NEM PENSAR EM SAIR PELA PORTA PEQUENA!"

P – Tem noção de que pode vir a ser uma lenda como George Best ou Bryan Robson, que pode ficar imortalizado no Manchester tal é o estatuto que já adquiriu e que ainda pode vir a adquirir?
R [após uma pausa] É um fenómeno importante. Percebo o que quer dizer. Ficar no clube até ao final da minha carreira… Pode vir a acontecer. É verdade que já disse que um dia gostava de jogar em Espanha. Mas se assim não acontecer não haverá nenhum problema. Estou no Manchester e estou muito bem. Este é um dos maiores clubes do Mundo. A minha ambição sempre passou por jogar num grande clube: já lá estou. Aliás, já estou desde os meus 18 anos. Estive, e continuo a estar, bem, sinto-me muito feliz por isso. Espero que as coisas me continuem a correr da mesma forma, ou ainda melhor. De uma coisa tenho a certeza: o Manchester é o clube ideal para mim.
P – Sair do Manchester só pela porta grande, é isso?
R – Claro que sim! Nem pensar em sair pela porta pequena!
P – Que era o que podia ter acontecido…
R – Exactamente. Mas as coisas correram bem. Espero fazer uma boa temporada. Em relação ao futuro, logo se verá. Se fico aqui mais dois, três, cinco, dez anos ou até ao final da carreira isso já não sei. O que eu quero é deixar a minha marca no Manchester, deixar a marca no clube como o primeiro português que jogou cá, deixar a porta aberta para outros meus colegas cá possam jogar um dia. Quero fazer uma boa campanha, quero demonstrar, também, que a decisão que tomei quando tinha 18 anos foi boa, que a aposta que fizeram em mim também foi boa e continuar a demonstrar o meu valor.

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