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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

De Hong Kong à Madeira para ver a terra de Ronaldo

Uma turista chinesa, admiradora incondicional da arte de Cristiano Ronaldo, lançou-se à aventura e viajou mais de 30 horas a partir de Hong Kong só para conhecer a Madeira. Durante dois dias, com a ajuda da equipa do Tribuna e dos dirigentes do Clube Futebol Andorinha, Gloria Sauyan Wong seguiu com devoção as peripécias de infância do mais famoso futebolista português da actualidade. Para casa levou a memória de uma tarde única. E em relação ao jogador deixou uma certeza: “Cristiano Ronaldo é uma celebridade na Ásia”.Os olhos amendoados da jovem animam-se ao ver os papéis que o senhor Cecílio, o discreto funcionário da secretaria do Clube de Futebol Andorinha, lhe entrega. Ao lado, o ex-presidente da colectividade, Manuel Neto, explica num português pausado, silabado, o significado das folhas que Gloria segura. É uma cópia da ficha de inscrição de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro no clube de Santo António, referente à época de 1994/1995, a segunda em que o jogador do Manchester United jogou futebol a nível oficial, com apenas nove anos. Quando se apercebe do que tem em mãos, a moça não consegue disfarçar a surpresa. Folheia as páginas, segue os dados referentes aos primeiros jogos do mais mediático jogador de futebol português da actualidade, centra o olhar na foto, que mostra um garoto magro e de expressão decidida e, por fim, sussurra o nome do seu ídolo, inscrito no cartão da Associação de Futebol do Funchal. Os lábios murmuram um 'obrigado', proferido em tom baixo mas sentido. Olha depois para o jornalista do Tribuna e sorri, um sorriso largo, do tamanho do mundo. Depois de meses de preparação e de uma ponte aérea de dois dias, iniciada em Hong Kong e que incluiu paragens em Amsterdão e Lisboa, noites mal dormidas e atrasos nas ligações, Gloria Sauyan pode finalmente sorrir. A 'peregrinação', como a própria designa a sua aventura, já valeu a pena. A 'fã número um do Cristiano Ronaldo' tem na sua posse um conjunto de objectos/recordações inestimáveis, que assinalam a curta passagem de Ronaldo, do 'seu' Ronaldo, pelo futebol jovem do Andorinha. Extasiada, vê e revê os papéis, mira o galhardete e faz os possíveis por descodificar a letra do hino do clube, escrita na contracapa do CD que lhe foi oferecido. Gloria nem quer acreditar. “Quando os meus amigos virem isto... Decididamente, não me posso queixar, tenho muita sorte”, diz, incrédula. História de uma peregrinação Gloria Sauyan Wong, chinesa nascida em Hong Kong, não é apenas mais uma fã de Cristiano Ronaldo. Ela própria o admite. “Sigo a carreira dele desde que o vi jogar contra o Irão, no último campeonato do mundo. É um grande jogador e um rapaz bonito. Não conhecia sequer a selecção portuguesa, não a tinha visto jogar. Conhecia Figo, claro, que foi considerado o melhor jogador do mundo pela FIFA há uns anos. Mas o Ronaldo chamou-me a atenção no jogo contra os iranianos. Fez uma grande partida e eu gostei imenso dele. É um jogador extraordinário”, confessa. Desde esses dias de Junho de 2006 que a sua vida mudou. Para esta designer publicitária de 25 anos, a trabalhar em Seattle, nos Estados Unidos, o menino prodígio de Santo António está longe de ser uma simples atracção. É uma fixação, uma obsessão que a leva, compulsivamente, a recolher toda a informação possível sobre o homem, o jogador e a vedeta do Manchester United. Em menos de um ano Gloria já colecionou um acervo substancial sobre 'Ronny', a alcunha pela qual Ronaldo é conhecido nas ilhas britânicas. Sobre ele tem de tudo: recortes de jornais, revistas, fotos, histórias, mexericos, dados, estatísticas... Ainda antes da subida às zonas altas para conhecer 'in loco' os locais de infância de Ronaldo, a chinesa já havia demonstrado um conhecimento enciclopédico sobre o jogador. Em conversa com o jornalista Gloria relembrou a epopeia lusa no mundial da Alemanha, dando provas de uma memória espantosa. “O jogo contra o Irão foi importante, foi intenso, mas a partida contra a Holanda, então, foi arrepiante. Lembra-se das pancadas que os holandeses lhe deram? E de quando ele saiu por lesão, ainda na primeira parte? Deram uma imagem dele a chorar, sentado no banco, e eu tive imensa pena, não me conformei...” E contra a Inglaterra? “Ui, aí ainda foi pior”, exclama. “Houve aquela cena da expulsão do [Wayne] Rooney, os ingleses não lhe perdoaram, foi muito difícil para o Cristiano mas ele deu a volta. Hoje em dia já ninguém o critica. Eu sei disso porque acompanho todos os jogos e tenho consciência do quanto os adeptos britânicos gostam dele”. Odisseia de trinta horas Foi em nome desta paixão que a viagem à Madeira começou a ganhar forma. Para esta viajante profissional – nos últimos quatro anos Gloria Sauyan passou temporadas no Canadá, Argentina, Costa Rica, Macau, Singapura, Israel, Inglaterra, Holanda, sempre em busca de sensações novas -, a decisão de incluir Portugal e a Madeira na sua rota aconteceu depois de uma passagem por Macau, onde avaliou de forma positiva o impacto da cultura portuguesa. “Fiquei muito impressionada, Macau é muito interessante. Quando me apercebi da influência da língua e da cultura portuguesas em Macau pensei logo em me deslocar a Portugal e à vossa ilha”. A viagem, preparada ao longo de meses, realizou-se finalmente em Janeiro deste ano. Saída de Hong Kong, Gloria Sauyan fez escala em Amsterdão e Lisboa, onde pernoitou, antes de chegar ao Funchal. Na aeroporto da Portela aguentou com estoicismo uma espera de mais de oito horas antes de embarcar. À chegada, conta, viu uma “ilha montanhosa, onde conduzir é difícil”, mas soalheira e acolhedora. Depois de um primeiro contacto com a equipa do Tribuna, que havia contactado previamente por e-mail, acertaram-se os pormenores referentes à visita a Santo António, prevista para o dia seguinte. A 'peregrinação' podia finalmente começar. “Posso ficar com a camisola”? A tarde de sábado, 20 de Janeiro, ficará certamente marcada na memória de Gloria Sauyan. Guiada por Manuel Neto - um cicerone irrepreensível, de uma simpatia a toda a prova -, e pela própria equipa de reportagem do Tribuna, a admiradora percorreu os locais de infância de Cristiano Ronaldo como um peregrino em romagem de fé. Depois da passagem pela sede do Andorinha, onde se inteirou sobre o início da carreira do seu ídolo, seguiu-se uma paragem na antiga casa dos pais do jogador. Uma residência modesta, já degradada, que a chinesa vasculha com uma devoção reverencial. A figura leve da asiática não passa despercebida aos moradores, que se desdobram em perguntas a respeito da turista. O próprio Manuel Neto reconhece o cariz excepcional da visita, e a projecção que a mesma pode dar ao Funchal. “Que eu saiba, nunca ninguém veio de tão longe só para ver a zona onde Ronaldo nasceu e viveu. Acho extraordinário que uma jovem tenha vindo de Hong Kong por dois dias apenas para ver de perto Santo António e o Clube de Futebol Andorinha, onde o 'pequeno' começou a jogar. Não conheço nenhuma outra pessoa que tenha feito uma coisa destas”. Para mais tarde, num dos anexos do campo do Marítimo, estava reservada uma surpresa. Um familiar do jogador, Luís Filipe, apresenta-se com várias camisolas da selecção nacional e do Manchester United, devidamente autografadas pelo futebolista. Feitas as apresentações, Gloria verifica as assinaturas e pergunta se pode guardar algum dos emblemas. “Posso ficar com a camisola?”, arrisca. Mas Luís Filipe não cede. O que ali tem é precioso. Gloria compreende e contenta-se em tirar fotografias. Não cabe em si de contente. A romagem prossegue. No carro trocam-se histórias, cenas de jogos, episódios da infância do menino bonito do Manchester. Manuel Neto relembra a aptidão natural do jogador: “Com seis, sete anos, ela já tinha uma forma adulta de jogar. Entrava às bolas decidido, metia o pé, era extremamente competitivo, queria a bola só para si. Toda a gente percebia que ele era diferente, muito melhor do que os outros”. Atenta, a turista bebe-lhe as palavras. A escola primária de Ronaldo é outro dos pontos obrigatórios. Mais fotos, mais detalhes sobre a vida do filho de Dinis Aveiro. Há uma paragem no novo estádio do Andorinha, na zona dos Álamos. Depois de visitar as instalações, e de conhecer os funcionários, Gloria Wong tira algumas fotos com a bola no relvado. Uma pausa para o café antecede a etapa final da 'peregrinação', uma ida à loja das irmãs de Ronaldo, a CR 7, na zona da Ajuda. Pelo meio, a notícia de que o Chelsea de Mourinho, concorrente directo do Manchester na luta pelo título na 'Premiership', havia perdido o seu jogo. Gloria sorri. Assim, quem sabe, talvez o 'seu' Ronaldo possa aumentar a vantagem sobre os 'blues' no dia seguinte... Na Ajuda há novas descobertas. Gloria entra na CR 7, vê roupas e faz compras. Um colar é a derradeira recordação de uma tarde diferente, marcada pela emoção e pela descoberta. À saída, a asiática era o espelho da felicidade. E agora, Gloria, a Madeira é para voltar, com Ronaldo ou sem ele? A resposta sai-lhe pronta: “Gostaria de voltar, claro. Foi uma visita curta, foram só dois dias e seria bom regressar, trazer o namorado ou a família. Mas gostei muito, cumpri um sonho e levo daqui óptimas recordações”.
“Ronaldo é uma celebridade na Ásia” A popularidade de Cristiano Ronaldo na Ásia e no Extremo Oriente “só é comparável à do próprio Manchester United”. Símbolo maior de um dos maiores e mais populares clubes do planeta, Ronaldo é, na opinião de Gloria Wong, adorado pelos seguidores do futebol daquele continente. “É um jogador popularíssimo”, afirma Gloria, e a internet parece dar-lhe razão. Uma consulta pela web demonstra que a perícia do madeirense é seguida de perto pelos adeptos asiáticos. O motor de busca 'google' aponta 46 mil e 700 clubes de fans de Cristiano Ronaldo naquele continente, um número impressionante. Os próprios sítios do Manchester United põem em destaque o madeirense, as suas assistências e os seus golos. Eleito o melhor jogador da 'Premiership' em Novembro e Dezembro de 2006, Ronaldo está num momento de forma excepcional e as suas prestações são acompanhadas em todos os pontos do globo. O que desde logo levanta uma questão. Terá o Governo Regional capacidade para comprender cabalmente e capitalizar no plano turístico a mais valia que Cristiano Ronaldo representa? Até à data, e apesar de alguns esforços, a resposta não é clara. Numa escala distinta, mas nem por isso menos visível, Pedro Pauleta associou a sua imagem aos Açores de maneira indelével, promovendo a venda de produtos e serviços. E porque não fazê-lo com Ronaldo?
em: tribunadamdeira.pt

1 Comments:

  • Ronaldo é uma celebridade no mundo inteiro. Admiro a chinesa pela coragem de viajar 30 hrs p conhecer a Madeira.

    By Blogger JOSIANE, at 7:23 da tarde  

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